Curiosamente os movimentos cívicos tiveram lugar nos países onde os direitos dos cidadãos são letra praticamente morta.
“ Precisamente por isso!” – dirão alguns.
Talvez.
Mas o que é um facto inegável é que os protestos de rua, as grandes concentrações aparentemente espontâneas e sem liderança visível, como movimento de fundo da massa anónima, tiveram origem nos países árabes onde o despotismo, a corrupção e a estratificação social são flagrantes.
Ninguém que tenha o olhar habituado a ler a História e os movimentos sociais, terá a ingenuidade de pensar que estas manifestações nascem apenas da vontade, do desencanto, de desespero e da muita raiva contida no individuo anónimo . Obviamente que são orquestradas, utilizadas e orientadas. Mas o facto de o serem tão subtilmente, de maneira tão low profiled , dão àqueles que dele participam de coração aberto e vontade plena, a sensação de serem senhores das suas próprias decisões e actos.
Os resultados estão à vista e vêm comprovar a força da sociedade civil face ao poder instituído.
Já na década de 90 do Século passado, tivéramos um exemplo que embora não tenha resultado como era pretendido, teve o enorme mérito de alertar uma opinião pública internacional adormecida , para o jugo que o gigante chinês impunha e continua a impôr aos seus cidadãos. Penso que ninguém conseguirá esquecer a imagem do pequeno chinês desarmado, só, empunhando a coragem dos que têm para si apenas a razão dos seus ideais, enfrentando um tanque que, por contraste de força , parecia ainda maior, enorme, ameaçador!
Nos últimos meses as grandes praças de países como o Egipto , a Tunísia ou o Iraque encheram-se de gente que protesta assim, aguardando que a pressão internacional, por meio dos media, force a renovação, a transição de regime.
A imagem dum mar de gente pacifica, que se limita a gritar palavras de ordem, expressando o seu protesto, começa já a ser indicio de mudanças, se não radicais pelo menos consideravelmente importantes nos sistemas políticos e sociais.
Ora quando movimentos semelhantes começam a surgir na Europa e de forma mais concreta nesta Europa periférica onde são flagrantes os desníveis sociais, onde o desemprego aumenta á medida que o limiar de sobrevivência diminui, onde a corrupção é tão descaradamente brandida que se tornou sinónimo de poder instituído, económico ou político, onde os jovens dizem-se à rasca e onde se começa a assistir a novo fluxo emigratório, quando tais movimentos começam a surgir, vão por mim: o fim está próximo!
Esperemos que a tempestade não se transforme num simples aguaceiro e dê início à bonança duma nova era!
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