Regressar a África para muitos é o abrir duma chaga nunca
fechada e que sangra ao mais pequeno toque.
A memória é coisa que perdura muito para além do mero querer
consciente. Assalta-nos quando menos esperamos e em muitos casos , inflige-nos
a dor que pensávamos estar esquecida.
A toda poderosa crise Europeia ( que se estende a todo o
Ocidente desenvolvido, diga-se em abono da verdade!) tem vindo a obrigar ao
êxodo rumo a outros continentes.
África foi em várias fases da nossa História, o destino
escolhido.
Primeiro como punição, degredo, alternativa a uma vida sem
liberdade. Eram os primeiros anos do século passado!
Depois o El Dourado da década de cinquenta , o início da
grande vaga do colonialismo que descambou em conflito aí por volta de 61.
Seguiu-se a guerra que , com todos os seus horrores, deixou
em muitos o amor pelos grandes horizontes, pelos pôr-de-sol vermelho, pelas
melodias, pelo encantoda terra vermelha de África!
Mas esta é uma mãe caprichosa que não raras vezes fustiga os
filhos que a amam!
A década de sessenta viu chegar os retornados a Portugal.
Palavra oca de sentido para a grande
maioria que nunca tinha, sequer, colocado os pés na Metrópole e por isso não
retornavam a lado nenhum! Pelo contrário eram escorraçados, refugiados, banidos
do único país, do único continente que conheciam.
Hoje os portugueses voltaram a escolher Moçambique como
destino para a diáspora que o seu país lhes impôs .
Estão um pouco por todo o lado: com pequenos e grandes
negócios, tentando estabelecer parcerias e acordos.
Mas a visão do seu papel neste país é bem diferente da que
havia nos idos de sessenta e os que não entendem a dinâmica e o ritmo próprios
de Moçambique, tendem a fracassar na sua
procura dum futuro melhor.
Voltámos a ser emigrantes e a África que outrora foi
portuguesa é um destino de eleição.
Alguns tornaram-se agora verdadeiros retornados.
Muitos não entendem o que se passou nestas últimas décadas
em que alimentaram um quimérico sonho de imobilidade. O despertar para a
realidade acaba por ser doloroso e violento. Evidentemente que a terra que
deixaram já não existe! São os que ficam pairando por aqui , um pouco à deriva
e que, em muitos casos, acabam por voltar a Portugal com a derrota na bagagem.
Outros , pelo contrário, abraçam este país que começa a
renascer, como um enorme e maravilhoso desafio. Estes serão os vencedores.
Assim o permita a Mãe África!
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