segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

TODOS MORREMOS SOZINHOS

Chocados?! De facto? Mas porquê? Porque a comunicação social noticiou a descoberta dum cadáver com nove anos dentro dum apartamento que, por acaso , fora levado a hasta pública? Chocados porque, vá lá saber-se porquê, de repente começaram  a surgir velhinhos devorados pelos seus animais de estimação, últimos companheiros das suas vidas vazias;  mortos que ninguém reclama, pessoas que parecem ter-se evaporado no ar sem que ninguém tenha dado conta?
Estaremos de facto assim tão genuinamente chocados? Ou o que nos choca é o nosso papel, mesmo passivo, mesmo colateral nesta sociedade de números, de ter e haver, onde o Homem, deixou de ser a medida de todas as coisas e foi substituido por palavras de significados vazios e que não correm risco de nos atormentar a consciência como produtividade, dívida externa, emprego/desemprego, dinheiro, contas, carreira?
Há muito que somos uma sociedade contabilística que votou os seus idosos ao abandono em lares que , de onde em onde , são notícia por se revelarem verdadeiras antecâmaras de morte e que nos chocam uma vez mais. Somos uma sociedade que se esquece dos que já não produzem, empurrando-os para a mendiciddae e para a humilhação mais desumana, para o esquecimento, para as franjas do infra humano. E temos a coragem de nos sentir chocados? Temos a coragem de tentar encontrar culpados das situações que agora, como se fossem cogumelos, começam  a surgir?
Há quanto tempo ( tanto tempo!!!) elas existem? Há quanto tempo nos deixámos de importar?
Não me sinto chocada, não. Sinto-me envergonhada. E com medo. Sim, porque no fim todos acabamos por morrer sozinhos.

2 comentários:

  1. Não precisa de ser na morte. Pode ser em vida mesmo... um azar e somos esquecidos pelos "amigos", que nos ignoram.
    Sim, desses que são amigos enquanto lhes podemos ser úteis ou lhes podemos dar alguma coisa...
    Não precisa de ser na morte!
    Fernanda

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  2. Tens razão. Mas aqui entre nós... também nos esquecemos às vezes! Eu pelo menos me penitencio.
    Bjoka e sê bem vinda

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