terça-feira, 11 de fevereiro de 2020




O DIREITO À MORTE 


On the edge : Foto de stock




Houve uma altura ( estão recordados?) em que se discutiu, no mesmo pacote, aborto e eutanásia.
Como se fossem apenas duas faces duma mesma moeda e não, como são de facto, dois assuntos completamente diferentes.


Ponto prévio: quando se trata de temáticas que envolvem, além de outros, aspectos do foro emocional e até moral e religioso, ninguém consegue ter uma posição inequívoca e única. E digo ninguém com a certeza de que muitos dirão o contrário. Mas o certo é que quando confrontados com determinados pormenores ou aspectos diferenciadores, todos nós dizemos" Ah nesse caso..." independentemente das posições assumidas anteriormente.

Eu fui a favor da despenalização. Acredito que não existe mulher alguma que passe incólume por um processo desse tipo e penalizá-la era condená-la várias  vezes.

O mesmo se passava com amigos frontalmente contra e quando questionados sobre determinadas situações em que a questão do aborto se colocaria, também eles acabavam  por vacilar na sua posição.
Direitos como a vida ou morte, não são inócuos: mexem com os sentimentos mais primários e intransmissiveis  de cada um.

Há na Constituição Portuguesa e na Carta dos Direitos do Homem, artigos que consignam o direito à vida mas também o direito à  dignidade da pessoa e à sua autonomia. Curiosamente esquecemo-nos sempre destes últimos!

Foi assim com a questão do aborto que, note-se! abordava apenas e só a despenalização e não a sua prática indiscriminada como muitos fizeram crer na altura. 

 No entanto quando me confrontei com uma situação real, que me tocava de perto, tive dúvidas, recuei, coloquei questões. Creio que nos passa a todos. Na teoria somos assim , na prática muitas vezes tendemos para o assado.


E se no caso da despenalização do aborto concordei com o referendo, uma vez que estavam em causa não uma mas várias vidas,  e era possivel auscultar os envolvidos directa ou indirectamente na questão, no assunto eutanásia não me parece adequado. Até porque o que está em causa uma vez mais não é regulamentar a eutanásia mas sim a sua não penalização em circunstâncias muito concretas.



Quem pode em boa consciência, assumir o papel dum ser superior e perante um doente terminal sem qualquer esperança , agonizante numa dor que não conseguimos imaginar ( fisica e psicológica ) que pretende pôr fim ao seu sofrimento, condená-lo ao  tormento da inevitabilidade? 
Por outro lado ninguém vai obrigar ninguém a por fim à vida de outro, mesmo a pedido deste, sem um claro estudo da situação. E mesmo após esse estudo qualquer profissional de saúde pode recusar-se a fazê-lo. 
O que está pois em causa não é legislar sobre uma decisão pessoal mas sim prover a que essa decisão, sempre que estudada e devidamente analisada, possa ser tomada sem qualquer penalização.
Só quem nunca esteve perante situações deste tipo pode dizer que a eutanásia é sempre crime. Pode ser, sim. Todo e qualquer acto que ponha em causa a vida pode ser crime, dependendo das circusntâncias. Mas condenar sem apelo, qualquer ser humano a um sofrimento que declarada e insistentemente este não pretende, isso sim é crime. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

DOS ZERO AOS CEM EM SEGUNDOS

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Portugal é eximio em " produzir" virgens ofendidas!!!!

Não havia cão, gato , piriquito que não falasse dos negócios milionários de Isabel dos Santos . Mas à boca pequena , está visto, mantendo o " politicamente correcto".

Aliás creio que a par com a corrupção e a impunidade, o politicamente correcto é o grande cancro da sociedade actual. Chamar os bois pelos nomes e fazê-lo publicamente , é algo que se paga muito caro, quer pessoal quer profissionalmente.

Não simpatizo particularmente com a maneira de ser e de estar de Ana Gomes. Creio que, paradoxalmente, lhe falta alguma diplomacia.

E com isto não lhe nego nem a ombridade nem a coragem de dizer o que pensa e fazê-lo publicamente. Apenas creio que, sendo ela uma figura pública teria mais sucesso nas lutas que trava,  caso usasse outro tipo de estratégia, nunca deixando de ser politicamente incorrecta. É uma questão de estilo e cada um tem o seu.

Escrito  isto, pois é evidente que estava carregada de razão e que os que hoje lhe tecem loas são, em grande parte os que anteriormente a apelidavam de nomes pouco simpáticos envolvendo uma raça de cão também ele pouco afável, do partido socialista.

Somos especialistas em transformar bestas em bestiais em menos dum fósforo.

Ana Gomes é para muitos, incluindo eu própria, uma voz de consciência colectiva. Estridente  demais para o meu gosto, apontando a vários alvos ao mesmo tempo o que é sempre improdutivo, mas uma voz que, de facto, faz falta e que - está mais que provado!- convém ouvir.

Agora há que manter uma certa perspectiva analítica: Propôr a senhora para candidata à Presidência da República, desculpem mas é não ter noção do papel institucional que o cargo acarreta.

Não sou adepta incondicional do estilo Marcelo. Creio que a presidência espectáculo é perigosa porque acaba por embotar o eleitorado, levando-o a esquecer o real papel dum Presidente da República, que é bem mais do que uma figura familiar,  um pater familiae sempre disposto a um beijinho do doi-doi.

Aliás apoei publica e activamente a candidatura de Sampaio da Nóvoa e continuo a achar que seria um excelente presidente.

Naturalmente simpatizo com a ideia em abstrato, duma figura feminina na Presidência. Não por mera questão de género, mas porque acredito que há uma forma feminina,  muito particular de fazer e estar na política. Mas acima de qualquer outro pressuposto deverá sempre estar a meritocracia, a adequação da pessoa ao papel que terá que desempenhar.

Um ou uma PR tem que ter o bom senso de não cair no populismo mais primário, não enveredar pelo histerismo ou pela empatia vazia.

Num país onde os poderes do Presidente são limitados, é ainda mais dificil exercê-los, pois há que encontrar a justa medida das coisas, o equilibrio entre a relação com todos os outros poderes instituidos e o eleitorado. Ou seja não pode ser apenas um paladino ou porta voz dos cidadãos, nem tão pouco pode afastar-se dos seus deveres enquanto garante do regular funcionamento das instituições sem se imiscuir nelas mais do que o estritamente necessário.
Em síntese há que ter uma grande dose de senso comum ( que é o menos comum dos sensos como dizia a minha avó) aliada a uma clara noção  e sentido de Estado.

Por mais que me esforce não consigo ver Ana Gomes neste papel.

Não posso no entanto deixar de lamentar o seu afastamento da cena política.
Quem sabe se agora que passou a bestial não retornará.




quarta-feira, 22 de janeiro de 2020




JOACINE CARDO E PIMENTA Resultado de imagem para foto de joacine katar moreira

Muito mais que uma rocambolesca novela, o caso Joacine deve ser olhado com a atenção que merece uma revisão estruturada e profunda do nosso sistema político e, duma forma muito concreta, do nosso sistema eleitoral.

Vamos lá ver, afinal quem é que ganhou o lugar na Assembleia da República? Foi o partido ou foi a candidata? Natural e empiricamente terá sido o partido, uma vez que não é possivel a um qualquer cidadão propôr-se a eleições legislativas.
Mas será que sem o golpe de marketing da escolha duma candidata com vista a um determinado público alvo ( mulher, negra e com uma deficiência na voz) o Livre teria sido capaz de eleger um representante?

Jacques Séguela, um grande senhor da publicidade, dizia que fazer eleger um político é igual a vender um sabonete: define-se um público e entrega-se o produto ( ele sabia bem do que falava, tendo sido o homem forte das campanhas de François Mitterand e de Lionel Jospin) .
Sejamos sérios: quantos de nós se dão ao trabalho de ler os programas eleitorais dos partidos que se apresentam  a sufrágio? Quando muito leremos aquele com o qual nos identificamos ignorando todos os demais. Mas a grande maioria das pessoas nem sequer se dá a esse trabalho e vota porque " simpatiza " com este ou aquele candidato. Ou com nenhum, aumentando assim o número dos que se abstêm com a estafada frase de " são todos iguais"

Este epísodio trágico-cómico deve ser analisado com  seriedade  e sem o espectro do " politicamente correcto" que acaba por ser uma hipocrisia . 
Hoje ouvi alguém com responsabilidade politica afirmar que este assunto vem demonstrar o perigo que existe em enveredar pelo sistema de círculos uninominais. Vaticinava até que isso seria o fim das estruturas partidárias. 
Sem comentar se tal seria ou não uma má solução, direi que o sistema que existe neste momento na elaboração de listas é no minimo falacioso.
Entre candidatos que são propostos  por círculos dos quais nada sabem e onde muitas vezes nunca puseram verdadeiramente os pés, embora tenham tido uma tetra-avó que lhes deixou uma ruina na região, até aos que são premiados não pelo trabalho desenvolvido em prol do país, da região ou da sociedade mas o serviço deste ou daquele partido ( o que implica não raras vezes uma clara vocação para o servilismo ) a representação na Assembleia - e perdoem-me as excepções - tem vindo a decrescer de qualidade.

A vantagem dos círculos uninominais do meu ponto de vista é incontronável: há uma clara ligação do candidato com o eleitorado que o elege e que lhe pode pedir responsabilidades ao longo da sua legislatura. Esta ligação poderá fragilizar os partidos mas sem dúvida fortalece a confiança entre eleitores e eleitos.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

ANO NOVO VIDA NOVA PARA O BLOG







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Retomar a escrita num blog fará ainda sentido? Depois de muito pensar e de ver o estado a que se chegou com a informação a ser partilhada a maior parte das vezes anonimamente nas redes sociais e de assistir com imensa tristeza ao eco dessas mesmas " noticias" em orgãos de comunicação social, achei que sim.
A liberdade de escrever e de assumir a própria opinião  sem estar sujeita a qual tipo de limitação é algo que, nestes dias de fake news e de correcções políticas, só se me afigura possivel desta forma.
Assim decidi imprimir uma " transfusão" noticiosa a este moribundo. Vamos ver se resulta e por quanto tempo. Não assumo a escrita diária em pequenos posts ( para isso servem as redes sociais), mas publicarei por aqui a minha opinião sobre factos de política nacional e internacional. Que me siga quem quiser. Será, prometo, uma caminhada honesta, sem preconceitos , nalguns casos divertida,  noutros nem tanto, mas sempre assumidamente como minha.

Vamos a isto pois.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

E A EUROPA AQUI TÃO PERTO!!






Os recentes acontecimentos ocorridos ao largo de Itália vieram reacender a questão da imigração ilegal e das suas consequências económicas mas sobretudo humanitárias, junto da opinião pública.
Os países do Sul da Europa têm-se visto a braços com este flagelo desde sempre mas com um a maior gravidade na última década, mercê do aumento dos conflitos em África e sobretudo no médio Oriente.
Portugal até ao momento tem estado numa situação protegida, já que a sua orla costeira é banhada pelo Atlântico e não pelo Mediterrâneo, para mal dos pecados  do turismo mas para descanso das autoridades.
Mas esta é uma situação que não vai durar muito mais tempo!!!
A serem tomadas as medidas repressivas decididas pela EU na passada semana no mar Mediterrâneo, não tardarão a dar à costa Algarvia barcos de gente ávida de vida e cadáveres anónimos!
É apenas uma questão de oportunidade face ao desespero: cortada a rota , supostamente menos perigosa, do mediterrâneo, outras irão surgir e a travessia  até agora pouco tentada , pois que o Atlântico é oceano nada pacifico, entre África e o continente Europeu, vai ser rota alternativa.
A Europa continua a exercer a sua já habitual política low profile e de recurso. A acção é determinada pelos efeitos duma causa que não querem ( ou não sabem!) atacar. Continua-se a agir pela solução imediata, mais simples, camuflada em roupagens de consenso.
Que diferença existe entre as medidas agora aprovadas e as sugeridas pelo primeiro ministro Australiano que tanta polémica e indignação provocaram? Uma única: a forma de comunicar, a linguagem usada, numa palavra a hipocrisia .
E Portugal, onde fica Portugal nesta questão? Que medidas  propôs, como pretende agir? Ou à boa maneira portuguesa, iremos lançar mão das três frases mais assassinas da nossa língua : “ Isto não há-de ser nada “; “ Depois logo se vê” e finalmente a célebre “ A malta desenrasca-se!”?


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A JUSTIÇA ESPECTÁCULO




 

Desde tempos remotos que a justiça e a sua aplicação tem uma componente de espectáculo .

Recordemos as execuções públicas  e os autos de fé, com todo o envolvimento amoral e lúdico que os acompanhava.

 Esta justiça/espectáculo tem duas razões de ser: A primeira a de demonstrar que a lei se aplica a todos sem excepção  e a segunda como medida de prevenção e de desincentivação  por forma  a prevenir outros delitos.

Mas o lado perverso desta justiça em praça pública, que nos nossos dias é feita nos media e nas redes sociais, é o julgamento sem direito a defesa ou contraditório e a inevitável condenação, que perdura indelével, para todo o sempre.

Naturalmente que a função dum jornalista é informar . Mas informar objectivamente sem juízos de valor , nem pretensões jurídico-penais. O seu papel deve acabar nos Quem, Como, Onde, Porquê e Com que Efeito, sendo este último o que é imediatamente visível.

Mas a culpa desta justiça/espectáculo não pertence apenas aos profissionais dos media!
Os quinze segundos de fama atraem juízes, advogados , investigadores, comentadores, cidadãos anónimos todos eles com algo a dizer, a acrescentar ou apenas ( o que é pior!) a deixar “ no ar” com uma aura de suspeição que agrava ainda mais todo o processo.

Dois arguidos nos dois casos mediáticos da semana passada, foram detidos no aeroporto. É caso para dizer que os aeroportos se tornaram lugares de alto nível de perigosidade!!

Como não creio que estejam estipulados piquetes das televisões nas chegadas e partidas dos aeroportos, as detenções em locais tão públicos só pode ter uma razão : a ânsia de mediatização e protagonismo que estão na base das fugas de informação!

Sócrates é uma figura pública e como tal é normal que a sua prisão seja efectuada debaixo dos holofotes?  Desculpem lá mas não. E, repare-se, não tenho qualquer simpatia particular pela pessoa, que não conheço pessoalmente e caso se venha a provar que é de facto culpado deverá arcar com as consequências dos seus actos como qualquer cidadão.

Agora custava muito segui-lo até casa e ali, fora dos holofotes ( que estavam por uma coincidência total naquele momento naquele lugar!!!) fazerem a detenção?  Se a investigação tinha já algum tempo faria diferença meia hora a mais ou a menos ?

No caso do Director Nacional do SEF o circo foi exactamente o mesmo! Estava a ser investigado. Sabiam que ia embarcar para uma reunião fora do país. Não podiam tê-lo detido à porta de casa? Foi preciso o enxovalho pessoal defronte dos seus subordinados? Foi necessário lançar a suspeita de fuga?

Ninguém está acima da lei. Mas  também ninguém está abaixo dela e há direitos que temos que respeitar .Os arguidos têm direitos que não estão a ser respeitados nem protegidos.

Mal está a justiça se os investigadores, o MP e todos os intervenientes, decidirem fazer  a sua própria série de Lei e Ordem.  É que a vida não é um filme!!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O CÃO QUE MORDEU O HOMEM






Aqui há semanas uma das “grandes” notícias era que um jovem tinha devolvido uma carteira que encontrara, com uma avultada quantia em dinheiro .

Quando questionado, limitou-se  a responder que o anormal seria que o não o fizesse e que não entendia a estranheza que o seu acto provocara.

Nos anos 80 ( do século passado!!) ensinavam-nos , a nós aspirantes a jornalistas, que a noticia era o homem que mordia o cão.

Hoje ao que parece, o que admira e faz correr tinta é a dentada do cão no homem.

O ministro da Administração Interna demitiu-se, apanhado na enxurrada do escândalo em torno de altas figuras da administração pública e toda a gente admira, felicita e tece os maiores elogios àa essa atitude !

Ora o estranho, o inadmissível, é que esta não seja a regra para todas as figuras públicas que vejam o seu nome manchado em praça pública por eventuais actos altamente gravosos ou ligações que possam pôr em causa o interesse nacional! Essa é que deveria ser a notícia!!

Mas não!

Já tomámos o moralmente repreensível, por normal.  Inverteu-se o paradigma do certo e errado no que às figuras públicas diz respeito. Não é pois de admirar que aquelas se sintam acima da Lei, impunes e inatingíveis. Foi esse o direito que lhes concedemos. Não nos queixemos pois de tanto homem a morder cães! Afinal à mulher de César pouco lhe importa se parece ou não séria. Sobretudo quando não o é.

Como tal Miguel Macedo fez o que devia ser feito. Não é caso para condecoração.