quarta-feira, 22 de janeiro de 2020




JOACINE CARDO E PIMENTA Resultado de imagem para foto de joacine katar moreira

Muito mais que uma rocambolesca novela, o caso Joacine deve ser olhado com a atenção que merece uma revisão estruturada e profunda do nosso sistema político e, duma forma muito concreta, do nosso sistema eleitoral.

Vamos lá ver, afinal quem é que ganhou o lugar na Assembleia da República? Foi o partido ou foi a candidata? Natural e empiricamente terá sido o partido, uma vez que não é possivel a um qualquer cidadão propôr-se a eleições legislativas.
Mas será que sem o golpe de marketing da escolha duma candidata com vista a um determinado público alvo ( mulher, negra e com uma deficiência na voz) o Livre teria sido capaz de eleger um representante?

Jacques Séguela, um grande senhor da publicidade, dizia que fazer eleger um político é igual a vender um sabonete: define-se um público e entrega-se o produto ( ele sabia bem do que falava, tendo sido o homem forte das campanhas de François Mitterand e de Lionel Jospin) .
Sejamos sérios: quantos de nós se dão ao trabalho de ler os programas eleitorais dos partidos que se apresentam  a sufrágio? Quando muito leremos aquele com o qual nos identificamos ignorando todos os demais. Mas a grande maioria das pessoas nem sequer se dá a esse trabalho e vota porque " simpatiza " com este ou aquele candidato. Ou com nenhum, aumentando assim o número dos que se abstêm com a estafada frase de " são todos iguais"

Este epísodio trágico-cómico deve ser analisado com  seriedade  e sem o espectro do " politicamente correcto" que acaba por ser uma hipocrisia . 
Hoje ouvi alguém com responsabilidade politica afirmar que este assunto vem demonstrar o perigo que existe em enveredar pelo sistema de círculos uninominais. Vaticinava até que isso seria o fim das estruturas partidárias. 
Sem comentar se tal seria ou não uma má solução, direi que o sistema que existe neste momento na elaboração de listas é no minimo falacioso.
Entre candidatos que são propostos  por círculos dos quais nada sabem e onde muitas vezes nunca puseram verdadeiramente os pés, embora tenham tido uma tetra-avó que lhes deixou uma ruina na região, até aos que são premiados não pelo trabalho desenvolvido em prol do país, da região ou da sociedade mas o serviço deste ou daquele partido ( o que implica não raras vezes uma clara vocação para o servilismo ) a representação na Assembleia - e perdoem-me as excepções - tem vindo a decrescer de qualidade.

A vantagem dos círculos uninominais do meu ponto de vista é incontronável: há uma clara ligação do candidato com o eleitorado que o elege e que lhe pode pedir responsabilidades ao longo da sua legislatura. Esta ligação poderá fragilizar os partidos mas sem dúvida fortalece a confiança entre eleitores e eleitos.

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