segunda-feira, 1 de julho de 2013

R.I.P.








 

 

 

 

Com o humor que lhe é característico, Woody Allen afirmava que em relação à morte só tinha uma opinião: era contra!

Quer-me parecer que se fosse possível opinar sobre o inevitável, todos teríamos a mesma opinião.  Mas esta é a única questão que não aceita  plebiscito nem está a votação. Existe , encontra-se no fim da linha de todos e de cada um de nós e pronto!

Tento ter perante este facto incontornável uma atitude o mais positiva possível, mas nem sempre consigo.

A morte só é aceitável quando natural. Pode ser revoltante quando acontece demasiado cedo ou quando vem de maneira aparentemente evitável: um acidente estúpido , uma distracção, um erro de diagnóstico. Mas é aceitável. Para uns estava escrito num livro algures na biblioteca do além e com o título de destino. Para outros é uma fatalidade, um mal que não se pôde evitar.

Destas tenho tido , infelizmente, alguns casos próximos. Duma forma ou outra tento reprimir a revolta que me assola pelo vazio que a partida dos que amo me deixa.

Mas a que mais me revoltou , a que não aceito , a que me pôs completamente fora de mim , foi a morte dum quase desconhecido.

 Um indigente, sem abrigo, que  fizera duma caixa de multibanco daquelas fechadas, a sua casa. Todos os dias de manhã enrolava os seus pertences por detrás da porta e ia à sua vida. Vida sem rumo, mas vida. Não se metia com ninguém, nem tão pouco era violento ou insultuoso. Débil de cabeça, quem sabe fruto da bebida e das agruras da vida, lá ia pedindo aqui e ali um cigarrito, fazendo uns biscates…

No bairro todos o conheciam. Uma senhora mais caridosa, cuidava-lhe da roupa, autorizava-lhe o balho semanal, dava-lhe de comer  e geria-lhe o pouco dinheirito que tinha.

Certo é que o homem , embora com aspecto de sem-abrigo, tinha um ar minimamente limpo e o lugar onde pernoitava não estava nauseabundo como acontece por vezes nos lugares mais públicos.

Na noite de S. João no Porto o Valter foi morto!

Agredido a pontapé e a soco, deixado no seu próprio canto, agonizante, foi descoberto pela primeira pessoa que, ao levantar dinheiro estranhou vê-lo ainda deitado. Resultado de noite de folia pensou. E foi então que viu o sangue .

O Valter foi assassinado sem misericórdia e sem sentido. Gratuitamente, apenas pela diversão duma noite de festa. O Valter não terá direito a inquérito policial e os seus assassinos ficarão impunes.

Morreu como viveu: um despojo da sociedade, anónimo, descartável.

Esta é uma morte da qual sou completamente contra! Sobretudo porque será esquecida!

 

1 comentário:

  1. Também eu sou contra. E contra ninguém se importar.
    Mas falaste e assim Valter não morreu anónimo
    (emocionei-me)
    bj

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