Em pequenino, por uma razão ou outra, quase todos tomámos chá. Digo quase porque, já se sabe, não há regra sem excepção.
Alguns tiveram a sorte de o tomar em chávena, com o pires por baixo e o dedinho encolhido. Outros, pelo contrário quando o tomaram foi em malga e rachada.
Estas coisas quer queiramos quer não, ficam e ou se faz um enorme esforço ou mais tarde lá vêm ao de cima o dedito em riste e o somzito do sorvedouro.
Morreu José Saramago. Como escritor e como homem foi, como todos nós, querido e admirado por uns, detestado e criticado por outros. É a sina humana : não se pode agradar a todos.
Porém, independentemente do nosso sentimento individual para com o homem ou até mesmo para com o escritor, uma coisa é incontornável: foi prémio Nobel da literatura e esse não é um galardão qualquer.
Mas até essa atribuição pode ser discutida e posta em causa. A questão é que lhe foi atribuido e essa honra trouxe prestigio à língua portuguesa que é a nossa Pátria e, que mais razões não houvesse, seria essa suficiente para que o último adeus ao homem e ao escritor fosse uma despedida grata duma Nação que dignificou.
Daí que não se entenda nem se possa perdoar, a ausência das duas maiores figuras da República Portuguesa nas exéquias de José Saramago.
Não se trata aqui do "politicamente correcto"! Trata-se de honrar os cargos para os quais o POVO, a NAÇÂO mesmo em último caso no que se refere ao senhor Presidente da Assembleia da República, os elegeu.
O professor Anibal Cavaco Silva pode ir aos funerais que muito bem entende. Mas O Presidente da República, que enche a boca para falar de si mesmo na terceira pessoa de cada vez que tem que assumir o papel de primeira figura nacional, não podia deixar de estar presente. Ele representa-me e a todos os portugueses. A sua função tem deveres que ultrapassam as quezilias pessoais e que o obrigam a colocar a posição d'O Presidente da República acima dos sentimentos e afectos do senhor professor Anibal Cavaco Silva.
E o mesmo para o Senhor Doutor Jaime Gama que é tão zeloso das normas e do protocolo, chamando à atenção dos deputados quando não iniciam as suas intervenções com a fórmula correcta com que devem dirigir-se à Assembleia e que depois esquece que manda o protocolo de Estado prestar homenagem às grandes figuras da Nação.
Mas com tudo isto podia bem José Saramago. Ele que se foi da morte libertando será lembrado em manuais, estudado em universidades, lido, amado ou detestado mas jamais esquecido.
Os outros, O Presidente da República, terá, talvez! direito a dois parágrafos num livro de História sebento do 6º ano de escolaridade, e na foto alguém fará um bigode farfalhudo o que o tornará bem mais parecido com o Senhor Silva, aldeão e poucochinho.
Do Dr. Jaime Gama ninguém se lembrará! Graças a Deus no qual Saramago não acreditava.
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