O estar longe tem destas coisas: bate-nos a saudade ,
deitamos uma lágrima ao ouvir um fado piroso mesmo mal cantado , acabamos por
gostar de bacalhau!
As duas primeiras experimentei-as por diversas vezes ( sim
mesmo a lagrimita ao canto do olho, Deus me perdoe!) agora acabar por salivar
diante do fiel amigo nunca me tinha acontecido.
E isto por uma razão que se multiplica por mil e uma, tantas
quantas as formas de confecioná-lo: não gosto de bacalhau!!
Mas a companhia era boa e aquele convite assim à última hora
para um jantar da Academia do Bacalhau veio mesmo a calhar. Se bem que ignorasse
completamente o que era isto de Academia do Bacalhau!!!
Pois bem, fui, gostei ( repeti o bacalhau, alguém
acredita????!!) e aprendi.
A ideia de criar uma associação de portugueses na diáspora
que reunisse e congregasse regularmente a comunidade portuguesa, surgiu na África
do Sul em 1968.
Se foi a saudade, o fado ou o bacalhau que os juntou,
desconheço. Mas ali se criou de imediato um eixo de lusofonia que extravasou as
fronteiras da África do Sul para se espalhar pelos cinco continentes contando
neste momento 51 Academias.
Mas o que é que se faz na Academia do Bacalhau para além de,
naturalmente , se comer o dito?
Em primeiro lugar estabelecem-se laços, criam-se as
condições de adaptação para os que vão chegando, reinventa-se um pedaço do Portugal
longínquo. As iniciativas sucedem-se e , nem de longe nem de perto, se resumem
às jantaradas mensais ( aliás sempre muitíssimo concorridas ao que sei!!).
Aqui se fala português ( o que para as segundas e terceiras
gerações é , não raro , das poucas possibilidades de contacto com a língua fora do seio familiar), aqui se ouve
poesia , aqui se debatem questões de carácter interno da comunidade e de
Portugal, aqui se aplica a fórmula “ um por todos , todos por um “.
Nos recentes dias de angústia perante os sucessivos raptos e
em que a comunidade se sentiu ameaçada, a Academia foi refúgio e alento para muita gente
. Debateu-se o retorno ou a permanência,
a segurança nas escolas e nos locais de trabalho, trocaram-se contactos,
disponibilizaram-se meios.
Não é à toa que se tratam por “compadre” e “comadre” à boa maneira
rural lusitana! A Academia do Bacalhau é uma aldeia de Portugal transplantada e
replicada por 51 países.
Mas não se pense que esta associação se fecha em si mesmo,
que se enclausura num ghetto . Não.
Todas as Academias têm um papel social e benemérito , apoiando
instituições de solidariedade dos países onde se encontram.
Estas instituições não têm que ter, necessariamente raízes portuguesas
. As Academias não estão de costas
voltadas para as sociedades que as acolheram!
Assim a Academia do Bacalhau de Maputo apoia a Casa do
Gaiato da cidade ( cuja verba o governo português cortou!) e uma associação de
jovens mães na Matola. Os contributos de empresários portugueses e dos próprios
eventos, vão direitinhos para estas obras.
No último jantar que decorreu no hotel Girassol – o único a
ter um buffet de bacalhau semanal!- , foi eleito o presidente da Academia para
o próximo ano. António David , após a sua reeleição , tratou de imediato de
organizar e agendar a festa de Natal da comunidade portuguesa, lembrando que a
permanência dos portugueses em Moçambique só é possível com uma estreita ligação
aos moçambicanos e como tal alertou para a necessidade de alargar a festa
também às famílias dos colaboradores de cada um dos presentes.
Aliás eram vários os Moçambicanos presentes e … compadres de
pleno direito da Academia. É que o coração tem uma só cor, bate a um só
compasso e… qualquer um pode gostar de bacalhau!
E de sentir saudade ao ouvir um fado.
Um gavião de Penacho, pois!!!!
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