quarta-feira, 7 de agosto de 2013

ABRIR A GAIOLA






Esta nossa forma submissa de estar, o nosso conformismo, a fatalidade com que encaramos todas as vicissitudes da vida, as que nos aparecem por obra e graça e as outras as que nos impõem à força de leis por mais déspotas que sejam, sempre me fez espécie!

Que Diabo!! Mas então não fomos nós os intrépidos conquistadores do mar , os valorosos descobridores de novos mundos ?? Ou a História é uma patranha e o poeta um louco ou algures perdemos a raça, o orgulho, a noção de povo, para nos tornarmos nesta massa inerte, “amibal” , gelatinosa e fraca.

Ontem, finalmente creio ter deslumbrado, senão a explicação cabal desta nossa passividade que transforma o fado de canção nacional a estado de alma e forma de vida.

Fui ver a Gaiola Dourada! Precisava dumas boas gargalhadas e achei que nada melhor que um filme onde se mistura Paulo Futre com Joaquim de Almeida.

À nossa maneira todos somos um pouquinho racistas e as inúmeras historietas dos Champinhis , com os seus carros velozes e ufanos, o seu português pontilhado com um francês de forte sotaque luso, prometiam-me uma soirée leve .

Pois bem, enganei-me! Sim, ri com vontade. Sim, os estereótipos estão lá todos. Sim, o Futre pode bem deixar de lado o mundo do futebol e rumar, senão a Hollywood pelo menos a Cannes. Sim!...

Mas o filme é bem mais profundo que uma comédia que poderia até ser afrontosa, sobre os nossos emigrantes. Embora ligeiro não deixa de er a profundidade suficiente para explicar esta nossa tendência para o “ triste fado”. O português tem medo de ser feliz! Pior: acha-se indigno da felicidade.

Moldados na cultura judaico-cristã que nos imprimiu no ADN nacional a noção levada ao extremo da necessidade de “ ganhar o pão com o suor do nosso rosto”, de “ comer o pão que o Diabo amassou” e ainda  de “ gemer e chorar neste vale de lágrimas”, os portugueses aceitam a sua desdita, os desmandos dos seus governantes, o apertar do cinto que lhe impõem com a mesma resignação que outrora os escravos davam as costas ao chicote. Era a lei da vida!

É por isso que medida de austeridade após medida de austeridade nos vamos adaptando, cada vez mais soturnos , acabrunhados, expiando um pecado qualquer, certamente primordial porque se perdeu na memória dos tempos e nos deixou assim : um pálido e frouxo reflexo da grandiosidade que um dia tivemos.

2 comentários:

  1. Manela

    Ainda não vi o filme, mas um dia destes vou!! Mas sei que tens razão... Este nosso triste Fado, sim pq até a canção é normalmente triste.
    Resignados? Talvez! Mas até quando? ou melhor até quanto? Quanto é que nos têm mais que tirar para dizermos CHEGA!! Para já é só dinheiro, mas já começa, para muitos a ser também a sua dignidade!!! Qdo trabalhaste uma vida inteira e depois és atirado para um canto, sem sequer dinheiro para comeres, há qualquer de muito errado!! Especialmente quando há reformas milionárias para aí, pagas com aquilo que tiram a outros.... Obrigada por mais um fantástico texto, e obrigada também por o partilhares. Bjs

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  2. MIN
    Os elogios ao filme são escassos. A obra é fantástica, vbulosa, retrata história real efabulada e com actores estupendos. Vi pessoas a chorar no fim da sessão, provavelmente a reviverem uma história que abrangeu um milhão de portugueses ( e o outro milhão está a caminho... ). É o 1.º filme a retomar as ilustres tradições do Vasco Santana, Ribeirinho e quejandos, dos idos de 40 e 50. O 1.º filme em meio seculo que vai ser revisto dezenas de vezes com gosto.Não perca a ilustre Maria Vieira e Marina Mota, e outros que tais, na ultima revista à portuguesa do Politeama. Imperdível e vai adorar os sketches das actualidades recentes à Paris e outras....by the way, não é o Futre é o Pauleta...

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