Esta nossa forma submissa de estar, o nosso conformismo, a
fatalidade com que encaramos todas as vicissitudes da vida, as que nos aparecem
por obra e graça e as outras as que nos impõem à força de leis por mais
déspotas que sejam, sempre me fez espécie!
Que Diabo!! Mas então não fomos nós os intrépidos
conquistadores do mar , os valorosos descobridores de novos mundos ?? Ou a
História é uma patranha e o poeta um louco ou algures perdemos a raça, o
orgulho, a noção de povo, para nos tornarmos nesta massa inerte, “amibal” ,
gelatinosa e fraca.
Ontem, finalmente creio ter deslumbrado, senão a explicação
cabal desta nossa passividade que transforma o fado de canção nacional a estado
de alma e forma de vida.
Fui ver a Gaiola Dourada! Precisava dumas boas gargalhadas e
achei que nada melhor que um filme onde se mistura Paulo Futre com Joaquim de
Almeida.
À nossa maneira todos somos um pouquinho racistas e as
inúmeras historietas dos Champinhis , com os seus carros velozes e ufanos, o seu
português pontilhado com um francês de forte sotaque luso, prometiam-me uma
soirée leve .
Pois bem, enganei-me! Sim, ri com vontade. Sim, os estereótipos
estão lá todos. Sim, o Futre pode bem deixar de lado o mundo do futebol e rumar,
senão a Hollywood pelo menos a Cannes. Sim!...
Mas o filme é bem mais profundo que uma comédia que poderia
até ser afrontosa, sobre os nossos emigrantes. Embora ligeiro não deixa de er a
profundidade suficiente para explicar esta nossa tendência para o “ triste fado”.
O português tem medo de ser feliz! Pior: acha-se indigno da felicidade.
Moldados na cultura judaico-cristã que nos imprimiu no ADN nacional
a noção levada ao extremo da necessidade de “ ganhar o pão com o suor do nosso
rosto”, de “ comer o pão que o Diabo amassou” e ainda de “ gemer e chorar neste vale de lágrimas”, os
portugueses aceitam a sua desdita, os desmandos dos seus governantes, o apertar
do cinto que lhe impõem com a mesma resignação que outrora os escravos davam as
costas ao chicote. Era a lei da vida!
É por isso que medida de austeridade após medida de
austeridade nos vamos adaptando, cada vez mais soturnos , acabrunhados,
expiando um pecado qualquer, certamente primordial porque se perdeu na memória
dos tempos e nos deixou assim : um pálido e frouxo reflexo da grandiosidade que
um dia tivemos.
Manela
ResponderEliminarAinda não vi o filme, mas um dia destes vou!! Mas sei que tens razão... Este nosso triste Fado, sim pq até a canção é normalmente triste.
Resignados? Talvez! Mas até quando? ou melhor até quanto? Quanto é que nos têm mais que tirar para dizermos CHEGA!! Para já é só dinheiro, mas já começa, para muitos a ser também a sua dignidade!!! Qdo trabalhaste uma vida inteira e depois és atirado para um canto, sem sequer dinheiro para comeres, há qualquer de muito errado!! Especialmente quando há reformas milionárias para aí, pagas com aquilo que tiram a outros.... Obrigada por mais um fantástico texto, e obrigada também por o partilhares. Bjs
MIN
ResponderEliminarOs elogios ao filme são escassos. A obra é fantástica, vbulosa, retrata história real efabulada e com actores estupendos. Vi pessoas a chorar no fim da sessão, provavelmente a reviverem uma história que abrangeu um milhão de portugueses ( e o outro milhão está a caminho... ). É o 1.º filme a retomar as ilustres tradições do Vasco Santana, Ribeirinho e quejandos, dos idos de 40 e 50. O 1.º filme em meio seculo que vai ser revisto dezenas de vezes com gosto.Não perca a ilustre Maria Vieira e Marina Mota, e outros que tais, na ultima revista à portuguesa do Politeama. Imperdível e vai adorar os sketches das actualidades recentes à Paris e outras....by the way, não é o Futre é o Pauleta...