segunda-feira, 22 de outubro de 2012
ALGO ESTÁ PODRE NO REINO DA EUROPA
Se fechar os olhos ou se os abrir para a paisagem e me abstrair da língua que não entendo, sinto-me em casa!
Longe da azáfama de Atenas e dos grandes centros, a Grécia é um país que se confundiria com Portugal, não fosse a distância.
Porém, ao contrário do que acontece connosco, nesta região onde o Evros delimita a porta de entrada na Europa, ainda subsiste alguma agricultura de média dimensão.
A refinaria de açucar terminou hoje mesmo o seu trabalho do ano. Os camiões com algodão vão escasseando ao longo da estrada. O tabaco foi armazenado há meses.
O Norte da Grécia prepara-se para viver mais um Inverno, desta vez debaixo do calor dos protestos e do garrote da Troika, enfrentando um aumento de 30% no preço da energia que obriga a recorrer ao velho sistema da lenha para poder sobreviver.
É que, longe dos folhetos turísticos, este país não é apenas sol e belas praias, ilhas e música. No Inverno esta região pode sofrer 20º negativos! Essa é a razão de se verem armazenados tantos toros de madeira um pouco por todo o lado: debaixo de alpendres, em garagens, nos galinheiros.
A Grécia está deprimida!
A vida que lhes foi oferecida foi-lhes também abruptamente tirada, tal como a nós.
Nenhum cidadão comum a pediu! Foram-lhes oferecidos créditos pelos bancos que os obrigaram a sonhar, que praticamente os forçaram a endividarem-se com os luxos que, durante décadas apenas viram noutros países do Norte para onde emigraram em busca do que a Grécia ( ou será Portugal? ) não lhes podia dar.
Sim foram ( ou fomos?) imprudentes aceitando, como crianças pobres, os brinquedos que até então apenas viramos nas mãos dos outros ou nas vitrines das lojas onde jamais tínhamos entrado. Por isso aceitámos o crédito da casa, do carro até das férias. Porque não? Afinal a intenção era pagar com o nosso trabalho, o nosso esforço.
Foi então que , vindo do nada, pelo menos para o comum dos cidadãos, a crise chegou. E onde? Aos bancos, os mesmos que quase nos forçaram a endividarmo-nos.
Tal como em Portugal também aqui a banca é na sua maioria privada. O nosso ( nosso?!) Millenium fica apenas a uma centena de metros do meu hotel.
Que razão houve pois para acudir com o erário público aos bancos em dificuldades? Não, não, não nos expliquem em linguagem técnica! Em termos básicos por favor… A banca funciona com o dinheiro dos depósitos, especulando com eles, certo? Ora aos governos deveriam apenas garantir os depósitos efectuados, não injectar dinheiro num sistema privado!! Quantas das empresas Gregas e Portuguesas faliram nos últimos dois anos? Quantas delas foram intervencionadas mesmo sabendo das centenas, milhares de desempregados que irão ficar a cargo da Segurança Social?
Não se pode negar que em termos da estrutura socio-económica que existia na Grécia pré troika, os gregos faziam jus a Zorba na sua dança despreocupada! Mas em boa verdade foi algo que lhes foi dado e não exigido . Tinham um 15º mês de ordenado, trabalhavam pouco, certo! Mas a Europa desconhecia isto? Acordou tarde, não fez o seu trabalho de casa ou assobiou para o lado?
Não é de admirar pois o aumento do descontentamento e das greves cada vez mais violentas. Ninguém gosta passar de cavalo para burro. Nós ( Gregos e Portugueses) não gostamos. Sobretudo quando são os mesmos a trocar de montada!!
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