Europa sob mira? |
Temo que se esteja a encarar o acontecido como o acto tresloucado dum jovem de ultra direita e nada mais.
No entanto não nos encontramos perante um acto de serial killer, com alterações de personalidade, mas antes duma acção consequente com um ideário que o próprio fazia circular nas redes sociais. E não era, nem é, o único!
As ideias xenófobas apresentadas como móbil para actos violentos e que assaltam periodicamente os meios de comunicação deixando rastos indignados por parte da Opinião Pública, acabam invariavelmente por cair no esquecimento sem que sejam devidamente analisadas.
A pergunta que se impõe é saber porque razão, em pleno Séc. XXI, século por definição da grande aldeia global quer a nível das trocas de informação, quer no que concerne à mobilidade de pessoas e bens, fervilham este tipo de ideias, contrárias á liberdade e aos direitos inalienáveis da pessoa humana. Mais, porque razão tais ideias encontram eco nas gerações mais jovens que por definição deveriam ser mais tolerantes e inclusivas.
Quase em simultâneo a conhecer este massacre e a arrepiar-me com a frieza do acto, dei por mim a ler um post no blog Fio de Prumo de Helena Sacadura Cabral onde ela reflectia ( e bem, como é seu hábito) sobre os fluxos migratórios na Europa fazendo, uma pausa concreta no panorama português.
Concluía ela que ao mesmo tempo que estamos a receber imigração, na sua grande maioria de mão-de-obra, estamos a obrigar jovens altamente qualificados a rumarem para o exterior .
Reflectindo sobre estes dois acontecimentos que a priori poderiam parecer nada ter em comum, não pude deixar de recordar também outros, quase varridos da memória e que envolveram manifestações violentas em diversas cidades europeias, nomeadamente em França e na Alemanha e atentados contra residências de imigrantes.
Será que, paradoxalmente, estaremos nós com as políticas de imigração adoptadas, a instigar comportamentos de intolerância e xenófobos?
Que pode sentir um jovem português que tem que deixar as suas referências, família, amigos, raízes, pegar no seu diploma e rumar para a diáspora, sabendo que um outro com as mesmíssimas habilitações ( por vezes menores até) virá ocupar um lugar que deveria ser seu mas que por uma questão económica é preterido por mão –de –obra, neste caso intelectual, mais barata? Não se sentirá revoltado? Não desenvolverá algum sentimento de intolerância?
Quando o desemprego na Europa atinge níveis quase intoleráveis, as politicas de imigração têm que ser revistas e muito repensadas, por forma a não fomentarem comportamentos de revolta nas camadas jovens.
A Europa tem que ser inclusiva, necessita de imigração e deve continuar a tê-la. Mas não pode ter na base desta política, questões meramente economicistas do tipo mão de obra barata e aumento demográfico.
Diziam os antigos que a solidariedade começava em casa, na família e isso é a base da união. Talvez que a União tenha que pensar um pouco mais nisto.
Os critérios de democracia e de liberdade, base da sociedade europeia e ocidental, têm por vezes um efeito perverso : o de aceitar todas as diferenças, todas as ideias, mesmo quando colidem com a estrutura social que é nossa referência e essência. Talvez que a tolerância tenha que, paradoxalmente , ser intolerante em determinadas questões básicas, a fim de a todos, sem excepção, incluir.
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