domingo, 3 de novembro de 2013

MENINOS DE ÁFRICA: JÚNIOR










_ Olha o maior crava da cidade!! Mas é giro este puto!!

Um comentário destes arrasa qualquer ego maluco que tem a mania de que (ainda ) é repórter!!!
Pronto!! Lá fui eu enganada mais uma vez!!! Sou muito ingénua!!!
Mas…
Ok, o puto passa avida a pedinchar . Curiosamente a mim nunca me pediu dinheiro mas sim comida, mas também sempre o apanhei a horas da refeição e perto de restaurantes. Mas pronto, dou de barato que tem , agora que me falam disso, um estilo muito próprio.
Mas…. E o que sempre me matou ao longo da vida foi isto: mas….
Não é o facto de andar a pedir que me leva a inclui-lo no rol dos meninos de África. É o facto de, com necessidade ou não, o fazer assim duma forma quase profissional.
Manha? Será! Acredito mesmo que seja. Mas a manha aprende-se e por regra é fruto da necessidade, aquela coisa que nos aguça o engenho por forma a sobrevivermos.
O garoto tem ( diz ele!) 12 anos mas aparenta mais.
Circula numa bicicleta que em tempos deve ter sido nova.
“ Ora pois, lá está!”
- Ouve cá Júnior, tas aqui a pedir e andas de bicicleta ? ( sim sou ingénua mas não sou parva!)
O garoto tem um ar de triunfo nos olhos:
- Foi um amigo que me deu. Ele é português como tu, sabes?
- Um amigo?
- É!! Ele é muito rico! O pai deu-lhe uma playstation  e patins, e bicicleta. Agora voltou para Portugal e deu-ma.
Há um certo orgulho na voz.
- Quando voltar vai-me dar outras coisas.
Faço-lhe as perguntas clássicas: pergunto-lhe pelos pais, pela escola, onde mora…
Diz-me que a mãe um dia foi-se embora e deixou-o sozinho em casa. O pai já tinha ido.
- Para onde?
Encolhe os ombros: não sabe. Era pequeno na altura. Aí uns cinco anos talvez. Nessa altura ainda não andava na escola.
_ Ficaste com os teus avós?
- Não com um vizinho. Agora vivo com uma tia e dois irmãos.
Ok alguém da família. Faz sentido.
_ Ela não é bem minha tia e eles também não são meus irmãos. São filhos dela percebes?  Toma conta de mim e pronto. Mas é muito chata.
- Chata?
- É. Não quer que eu saia e isso. E eu fujo.
Já tinha percebido que a rua era o seu mundo. Mas então e a escola?
- Ando na escola. Mas não gosto.- responde-me.
Evito ( a custo!) o velho cliché associado à educação e blá, blá.
Se calhar por isso apressa-se a dizer:
- Mas eu sei que tenho que estudar. Só que não gosto de estar ali fechado, sabes?
Ora se sei!! Quanto é melhor andar de bicicleta pelas ruas de Maputo.
É na rua que aprenderá a ser homem. Possivelmente na forma de Xico Esperto ou bem pior.
Mas para já limita-se a ser um puto giro que corre pelas ruas de Maputo montado num sonho que alguém lhe deu.

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