sexta-feira, 27 de julho de 2012

ORGULHO LUSO




Ainda no rescaldo do caso Relvas e de todo o anedotário, revolta e descrédito associados, fui ontem visitar um campus universitário.

Relativamente pequeno em termos do número de faculdades ( uma de Ciências Humanas e Sociais e outra de Ciências da Saúde ) é no entanto um imenso complexo de valências várias, integradas, organizadas e voltadas para a comunidade interna e externa.



Os edifícios principais onde se agrupam os serviços académicos , reitorias, gabinetes vários, são jóias do sec XVIII, recuperadas com o respeito devido ao belo mas funcionais. A Arte Nova em todo o seu esplendor, não pesa a quem trabalha rodeada de beleza.

Os edifícios adjacentes de traça moderna, são resultado do trabalho do curso de arquitectura ali ministrado e enquadram-se, sem qualquer “ choque” no conjunto.

O campus compreende três bibliotecas, uma por cada núcleo e área científica. Assim no corpo principal vamos encontrar, ao lado da cafetaria e do anfiteatro ao ar livre, a biblioteca de Ciências Sociais e Humanidades. Na Faculdade de Ciências da Saúde a biblioteca temática é ligeiramente menor. No Edifício das Clínicas está instalada a mais pequena das três mas que tem capacidade para setenta alunos e um espólio documental temático de várias centenas de livros para além do acesso directo e gratuito wireless ou por cabo, a bibliotecas virtuais.

O edifício principal alberga um Anfiteatro principal com 330 lugares onde a acústica pede meças à maior parte das salas de espectáculos .

Toda a universidade está voltada para a prática e como tal não faltam os estúdios de fotografia, televisão e rádio, uma mini agência de publicidade, uma redacção para apoio ao curso de Ciências de Comunicação. Mas os trabalhos não se querem meramente académicos e por isso todos eles têm uma finalidade concreta, seja a emissão de aulas à distância, algumas delas interactivas, seja a concepção e edição de livros, folhetos e cartazes necessários ao funcionamento da instituição, numa economia de escala que funciona como um relógio suíço!

Na Faculdade de Ciências da Saúde existem duas clínicas dentárias com serviço aberto ao público a preços módicos e com uma capacidade de atendimento de 80 pacientes ao mesmo tempo. A isto chama-se serviço público!!

Mas não tema quem ali recorre!!! Antes de actuarem na boca dos pacientes, os alunos são treinados em modelos altamente exactos.

Aliás estes modelos são constantes em todas as aulas práticas da área da saúde. Assim entrámos numa “enfermaria” onde em camas se encontram os “pacientes” sete ao todo, com diferentes “ idades” desde o recém-nascido até ao idoso. Todos os modelos têm nome, já que o trato humano também se aprende e aqui é-lhe dada uma grande importância.

Os laboratórios abundam, cada um com a sua valência especifica e equipados com o melhor da tecnologia.

No edifício das clínicas funciona o jardim escola para os filhos dos funcionários , professores e alunos. Um lugar aprazível com um jardim interno que quase nos faz desejar retornar à infância. O ginásio é um espaço polivalente onde se conjugam aulas práticas e onde o universo do campus pode fazer a sua ginástica .

Não vou falar da piscina, ou dos aparelhos para fisioterapia . Tão pouco vou referir as salas de apoio /consulta de psicologia, terapia de fala etc que funcionam não só como prática académica mas , com a noção clara e abrangente de ESCOLA, como serviço público fornecendo à comunidade envolvente um serviço onde as taxas moderadoras não se inflacionam. Até os fármacos do tipo aspirina e vitaminas fabricados nos laboratórios de farmácia, são depois distribuídos pelos bairros sociais.

É um belo campus, sim onde a palavra UNIVERSIDADE mantém o seu valor grandioso, longe dos holofotes da media e dos escândalos.
Ah, pensavam que era nalgum país do Norte da Europa? Nos Estados Unidos? Não meus caros! É no Porto e leva o nome do homem que dizia que faltava cumprir-se Portugal.

Ali, porém, tenta-se!



segunda-feira, 9 de julho de 2012

À ABORDAGEM!!!!!!!!!!!!!!!




Já não sei se o País endoidou de vez ou se de facto fomos abalroados por um bando de piratas, cujo fito único é o saque por qualquer meio!!

O Tribunal Constitucional contribuiu neste final da semana, para o triste anedotário nacional, com uma decisão de mercearia que não prestigia nem a instituição nem os seus membros e que nos deixa muito mais desconfortáveis e desprotegidos.

Há muito que deixámos de confiar nos nossos dirigentes qual deles mais desonesto. Agora vem o Tribunal Constitucional, que deveria ser o bastião último da decência e da lei, emitir um parecer que levanta uma dúvida abominável: será que este órgão é, realmente, independente?

É que de facto, e aí o Professor Marcelo concorda comigo, o TC acabou por legitimar qualquer atitude de austeridade por parte do Governo.

E fá-lo duma forma altamente inteligente ( ou não fosse composto por, crê-se!, alguns altos juristas da nossa praça) .

Por um lado conquista a franja de Opinião Pública composta pelos funcionários públicos e pensionistas, acenando-lhes com uma nebulosa possibilidade de, para o próximo ano, com sorte, terem mais alguns euros no bolso. Sim, porque , muito embora declare inconstitucional os cortes dos subsídios, para este ano… o que lá vai, lá vai.

Por outro, abre a porta ao Governo, que se via já a braços com a dificuldade para “presentear” os portugueses com novas medidas de austeridade, a fazê-lo “ coagido” pelo TC.

Duas questões se levantam desde logo:

1º Ao que sei um acto inconstitucional , “não prescreve” , ou seja é-o sempre e TEM que ser corrigido. Ora muito embora compreenda que não exista espaço de manobra para a reposição dos subsídios ( e já agora ninguém fala dos 10% de corte porquê? É constitucional? ) de imediato, o facto de ter sido considerado inconstitucional implica uma correcção do acto. Quando é que o Governo vai repor a situação?

2º O que é que não é constitucional: o corte nos subsídios ou o facto destes cortes se terem limitado à Função Pública? E neste último caso como é que pode ser constitucional um Governo impor a um privado uma gestão de recursos humanos?

Nada disto está claro e não o está deliberadamente o que nos deve assustar. Aliás a forma como foi divulgada a decisão foi, no mínimo nebulosa.

Evidentemente que o TC sendo um órgão constituído por elementos designados pelos partidos políticos , a promiscuidade espreita.

Razão tinha o José Saramago quando falava da Jangada de Pedra. Só que nesta altura a jangada é de madeira carcomida e o timoneiro usa pala e tem uma perna de pau.

Ah e leva um papagaio no ombro, com um enorme penacho em forma de canudo.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

ESPLENDOR SOBRE O RELVAS

Lula da Silva, quando foi empossado como presidente do Brasil, disse ser a primeira vez que obtinha um título. Nunca escondeu as suas, praticamente inexistentes , habilitações. Foi um grande presidente!


O exercício da política e da governação não exige um diploma, ao contrário doutras profissões. Exactamente porque não é uma profissão ou melhor, não deveria ser.

A política tornou-se profissão quando surgiram as “Jotas” que embora tenham sido criadas para formarem espírito crítico e político, transformaram-se em centrais de emprego, para quem não sabia fazer mais nada. Que me perdoem as honrosas mas raras excepções. Mas estas sabem perfeitamente que tenho razão!

E como este é um país de doutores , engenheiros , arquitectos, o canudito faz sempre jeito. Sim, que não fica bem chamar o Sr. Ministro de Álvaro e muito menos de Relvas. Cai-nos mal ao ouvido!

Os espanhóis resolveram a questão com o “dom” e os brasileiros tratam todos de “ dotôr” e a questão do título fica resolvida.

Por cá temos pruridos em chamar, ou intitularmo-nos Sr. ou Sr.ª sem mais. É assim uma despromoção social!

O caso Relvas, que tem feito correr tinta, não é o primeiro nem será seguramente o último. Pouco se me dá que o senhor seja doutor, engenheiro, arquitecto, ferroviário ou taxista. Já o facto de ser mentiroso e arvorar-se de virgem pudica, o de usar do seu poder para ameaçar e chantagear profissionais que, de certo fizeram transparentemente e com custo o seu percurso, ah isso sim não admito e creio que a todos nos deve indignar

Este era o homem que gritava que o rei ia nu aquando do caso Sócrates. Tinha razão , mas esqueceu-se que também ele levava as pudendas à mostra!

Este foi o homem que vociferava contra a promiscuidade entre o governo PS e a Comunicação Social, que se exaltou com o caso Manuela Moura Guedes , mas que quando acossado não se coibiu de telefonar para uma jornalista das suas relações, ameaçando-a publicar dados da sua vida pessoal.

Este é o governante que temos! E o problema é que não é filho único de mãe solteira!

Dizia-me ontem um amigo, que o facto de o sr ( doutor , engenheiro, arquitecto, risque-se o que não interessar) Miguel Relvas ter declarado ser algo que efectivamente não era quando tomou posse ainda como deputado, não é crime, uma vez que se trata apenas duma declaração que não carece de comprovativo. Pois sim! Mas há a LEI e a MORAL e quer por uma quer por outra a atitude deve ser punida, uma vez que foram prestadas falsas declarações.

Qualquer um de nós, mero cidadão anónimo, tem que provar o que afirma. Outrotanto não se exige em quem nos governa?

Não me importo de ser governada por um estivador. Desde que honesto, trabalhador e com uma estratégia para o país. Não aceito ser governada por mentirosos que nunca fizeram nada de útil a não ser utilizarem os partidos como trampolim para altos cargos nos quais só fizeram trampa. Por isso é que este País está neste atoleiro! Porque quem nos governa são os medrosos merdosos da nossa praça , que investem de cabeça contra quem lhes possa fazer frente.



segunda-feira, 2 de julho de 2012

PROFESSOR ALBÉRICO








Todos nós tivemos professores que nos marcaram, uns pela positiva outros nem por isso. De vez em quando vêm-nos à memória e os sentimentos que experimentámos ás suas mãos - medo, ternura, felicidade - fazem-nos sorrir.

Hoje o meu sentimento é de vazio pela morte dum homem que, embora não me fosse muito querido ( era professor de Matemática!!) era uma referência no liceu onde andei e na cidade onde vivi.

Chamava-se Albérico e nunca ninguém o tratou por doutor ou Sotôr. Ele era o professor Albérico e com o título ia o respeito de todos os que, directa ou indirectamente, com ele contactavam.

De uma inteligência francamente fora do comum, formou centenas de alunos e conseguiu o milagre de fazer com que alguns deixassem de odiar os números e fossem hoje grandes homens em áreas de engenharia. Não foi o meu caso. Aliás lembro-me do ar dele, bata imaculadamente branca ( sim ele sempre usou bata branca) aberta escorregando dos ombros , dizer-me com ar pesaroso:

- Ai filha tão inteligente para umas coisas e tão burrinha para outras!! Sendo que as outras, está bem de ver, eram as equações e quejandos que não me entravam nem á lei da bala. Não via beleza nenhuma naquilo!!

- A Matemática é a ciência mais bela que existe porque não depende da vontade nem da força dos homens.

Pois sim abelha!

Não obstante sempre gostei dele. A sua figura muito direita, seca de carnes, com a sua boina basca, o seu passo firme e o seu ar austero,o professor Albérico era uma referência em Oliveira de Azeméis.

Por trás daquele ar que intimidava estava porém um homem com um coração doce e terno. Sim sim, bem sei que muitos que me possam ler e que o tenham conhecido dirão que é bondade de obituário. Lamento mas não é. Foi preciso que ele se jubilasse e outros laços se estabelecessem para que eu o conhecer. Marido , pai e avô completamente dedicado, o Professor Albérico era a antítese do homem que em plena sala de aula ameaçava ( sem nunca, mas nunca cumprir nem sequer no tempo da "outra senhora!"):

- Começo a apanhar milho por aqui fora e vai tudo a eito!! - e exemplificava com os dois braços batendo dum lado e doutro.

Exasperava-o a inaptidão para os números. Não a entendia!

- Vocês parecem aquele tipo que começou a arrancar as árvores uma a uma à espera de encontrar a raiz quadrada, caramba!!!

O Professor Albérico morreu. Um acidente estúpido tirou-lhe a vida juntamente com a mulher quando regressavam a casa.

Dele fica, para os que o conheciam., a imagem dum homem íntegro, bata branca escorregando dos ombros magros, boina basca na cabeça onde os números pintavam as mais belas imagens.

Meu querido professor, ainda hoje não sei fazer equações e Pi é apenas um som, mas se falhou na sua missão de fazer de mim amante de números, conseguiu fazer-me amar os homens.

Grata e até sempre!