quarta-feira, 23 de novembro de 2011

PRÁ RUA!

Hoje tive um sonho! Não foi bem um sonho do tipo Martin Luther King . Pensando bem foi mais um pesadelo.
Sonhei que estava a viver na América Latina, muito embora o tempo frio, húmido e ventoso, fosse mais o nosso. Por alguma razão o país chamava-se Portugal. Mas juro que estava na América Latina!!
A sensação de opressão, de desilusão, de impotência, de desespero duns perante o fausto impressionante de meia dúzia amparados por um governo musculado, além de me ter dado calafrios não me deixou dúvidas: estava a viver numa ditadura da América Latina.

Foi quando acordei e saí á rua que me dei conta que, se calhar aquela teoria de que o nosso cérebro processa a informação do quotidiano enquanto dormimos, não é um mito urbano mas sim uma chocante realidade.
No trajecto de casa para o trabalho vi: seis pequenas lojas de comércio tradicional fechadas, duas delas já centenárias; uma bicha enorme que, sem nenhum exagero dava já a volta na esquina, a aguardar que se abrisse a porta duma instituição de caridade. Nem todos os que ali se encontravam se pareciam com os “ velhos pobres” que num número substancialmente mais reduzido, já me habituara desde há anos, a ver por ali. Rostos fechados em quase todos com quem me cruzei , passos arrastados de quase desistência.
O café, onde desde que me lembro sempre fora necessário lutar por um lugar ao balcão para a bica matinal, tinha praticamente todas as mesas vazias.
Em véspera de greve geral e pela primeira vez em muitos anos, senti um enorme apelo das ruas. Mesmo que um dia de salário seja retirado, mesmo que tal represente mais um furo no cinto que nos sufoca, nos tira o ar e a vontade de viver neste País que já foi jardim e hoje tem o aspecto dum campo de urtigas abandonado, mesmo assim, a mobilização parece-me enorme!
O manifesto encabeçado pelo Dr. Mário Soares ( mal eu sabia quando postei ontem que hoje de novo lhe fazia a devida vénia!) é duma acutilante chamada a esta mobilização. Pouco importa que tal seja negado pelos subscritores,. Entende-se a necessidade da negação, como se entende a obrigatoriedade de gritar por sobre os telhados que esta política ultra liberal não é saída para outro lado que não o despenhadeiro nacional.
Não se pode governar contra o povo ! Não se pode agrilhoá-lo, matá-lo á fome, desmotivá-lo , humilhá-lo, impunemente. É dos livros de História!!
Como diz o manifesto , não podemos aplaudir a democracia das ruas onde floresce a Primavera Árabe e depois recear as nossas próprias praças e ruas , deixando-as ao abandono para um imenso Inverno.

1 comentário: