quinta-feira, 21 de outubro de 2010

RETORNO ÀS MALAS DE CARTÃO




Os anos sessenta foram marcados pelo êxodo português para a França e a Alemanha. Já anteriormente, no período que se seguiu  ao fim da última guerra e antes disso na paz entre as duas, muitos foram os que rumaram em busca do El Dorado atravessando o oceano e aportando em terras do Brasil, Venezuela e Argentina.
As aldeias ficavam despovoadas de homens, entregues a mulheres, velhos e crianças.
Justificava-se essa emigração com o espectro das guerras, primeiro as que traziam a fome  vinda do lado de lá da fronteira, depois a outra, a que roubava vidas. Mas no fundo a razão ominipresente era essa necessidade de procurar fora o que aqui a Pátria negava: condições de vida e de trabalho condignas.

Pensávamos ter ultrapassado esses tempos. Pareciam-nos longínquos, parte da História.
Tornámo-nos até país de imigração, acolhendo primeiro gente vinda das nossas ex-colónias, abrindo depois os braços às vagas dos que fugiam das guerras a Leste para acabarmos por ser porto de acolhimento de todo o Mundo. Pagávamos desta maneira, uma dívida de acolhimento.

Hoje preparamos novamente as malas de cartão.
Não são já os altamente qualificados os que abandonam a ditosa Pátria amada. Esses há muito se viram escorraçados, empurrados para lá das fronteiras que só deixaram de existir na forma da lei, para poderem fazer frutificar as suas capacidades. E fizeram-no brilhantemente. Portugal perdeu muitos dos seus cientistas, economistas, gestores, abrindo-se a outros vindos de países mais deprimidos e que aceitavam as precárias condições que lhes ofereciamos. No fundo trocámos os filhos por enteados por um punhado de moedas! Hipotecámos o futuro por um presente mais baratinho.
Agora serão os outros, os que da noite para o dia se vêm a braços com uma crise que se arrasta e os arrasta, sem que a entendam. Uma crise que parece não afectar todos mas que empurrará muitos para o êxodo forçado.
E mais uma vez se vende a Nação. De novo se hipoteca o futuro.

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